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Resenha | O Jardim Secreto - Frances Hodgson Burnett

Editora: Penguin-Companhia (Companhia das Letras)
Páginas: 344
Estrelas: 5/5
Skoob
-Publicado originalmente 1911 em com o título de The Secret Garden

Um livro delicado, meigo e muito mágico. Conta a história da jovem Mary,uma menina mal-humorada e infeliz que acaba indo morar na casa de um tio seu, após o falecimento de seus pais.A casa é uma mansão nas charnecas,um lugar que ela escolhe odiar. Porém, vendo que não há outra forma e que ela terá que ficar lá, a menina decide explorar o local. Acha um velho jardim trancafiado em uma de suas explorações e decide cuidar dele com a ajuda de dois amigos. Mostra do começo ao fim o crescimento de Mary e de seus amigos.


Esse livro é tão lindinho, mas tão lindinho que me dói não ter lido antes. Eu já gostava do filme (sessão da tarde), mas o livro superou (como geralmente acontece).

Mary tem 7 anos quando seus pais morrem num surto de cólera na Índia, ela não tem para onde ir senão para a casa do tio, na Inglaterra. Só tem um porém, Mary é chata pra caramba, magrinha, de cabelo ralo e meio amarelada. Seus pais a deixavam sempre aos cuidados de aias e preceptoras e nunca se deram ao trabalho de educá-la, o que a torna mimada.

Quando ela chega na casa do tio, começa a conviver com as pessoas que trabalham lá, já que o tio também não quer nada com ela. Uma das empregadas se torna sua companhia e já de cara Mary vê que não vai ser mamão-com-açúcar, ao pedir que Martha a ajude a se vestir, a criada responde algo como "mas você não tem vergonha de não saber se vestir?". Logo, ela ouve boatos sobre um jardim lindo de rosas que está trancado há 10 anos e sua chave enterrada em algum lugar.

Nada melhor que segredos para entreter crianças. Ela acaba encontrando o jardim e começa a limpá-lo, cuidando para que as flores voltem a florescer. Com a ajuda de Dickon e Colin, as crianças encontram amizade, conforto e um propósito de vida.

Dickon é irmão de Martha, criada da protagonista. Ele é descrito pela Mary como um anjo, com bochechas vermelhas como cereja. É bem-quisto por todos e tem muito jeito com animais e plantas. Se ele fosse mais velho, com certeza seria aquele personagem que não fala muito, mas entende tudo, fonte de bondade, sabe? Ele também tem uma mãe muito show-de-bola, ao mesmo tempo em que ela dá alguns conselhos valorosos, também deixa-os livres para descobrirem por si o que é certo e o que é errado.

Colin é mais parecido com Mary, inclusive mais mimado que ela. Cresceu achando que iria ser corcunda como o pai e morrer antes de chegar a maioridade. Todos tinham que fazer a vontade dele, pois se não fizessem, ele tinha um ataque de histeria e piorava. É o personagem que mais cresce ao longo do livro, impulsionando os outros com sua "mágica".

O livro é escrito em 3ª pessoa e acabamos conhecendo até os pensamentos do pisco-de-peito-vermelho, uma das adoráveis companhias das crianças nessa história. Tem uma parte muito engraçada quando o pisco e sua pisca estão preocupados com a segurança de seus ovos em face à bagunça das crianças. Nós não sabemos da conversa dos dois passarinhos por diálogos, o narrador é quem interpreta os gestos dos dois e nos conta o que ele entende, e essa eu acho que é uma das belezas da narrativa em terceira pessoa.

Vale ressaltar também uma parte que me surpreendeu, que pode ser vista num diálogo entre Martha e Mary: "Os livros sempre falam que os pretos são pessoas como nós e são nossos irmãos.". Se fosse um livro escrito hoje, principalmente por ser direcionado à crianças, duvido que saísse da mesa do editor com a palavra pretos, mesmo que a mensagem da frase seja boa. Tenho curiosidade de pegar uma versão infantil mesmo desse livro e conferir se esse diálogo se manteve.

De qualquer forma, foi uma viagem de volta a infância. Quando eu estava lendo sobre a procura do jardim, tive que parar a leitura e lembrar do meu colégio de ensino fundamental. Era um prédio antigo e tinham várias salas fechadas, e nós, crianças, morríamos de medo do que haveria dentro. Era a história mal-assombrada do colégio até o dia em que uma das salas estava aberta e era um almoxarifado (rs.). Porém, enquanto o mistério durou, nossa curiosidade permeava todas as nossas tardes, assim como com a Mary.

Eu achei linda a maneira como foi retratado o crescimento das crianças, como eu disse antes, Mary era uma menina mimada, mariazinha enfezadinha, e num trecho em que Colin pede que ela fique até ele dormir: "Feche os olhos," disse Mary, puxando o banco mais para perto da cama. "Eu vou fazer como a minha aia fazia comigo na Índia. Vou fazer carinho na sua mão e cantar uma música bem baixinho até você dormir."

Esse livro tem tudo. Tem escrita excelente, tem amadurecimento de personagens, tem um cenário bem construído. Eu não anotei nenhum ponto negativo para citar. Não é clássico à toa.

E você? Já leu ou quem sabe viu o filme? O que acha dessa história? Deixe sua opinião nos comentários!

Comentários

  1. Oi Rafa,

    confesso que não leria o livro pela capa que é bem sem graça. Sua resenha ficou ótima e senti que poderia curtir a história, apesar de não ser meu estilo habitual.

    beijos.

    www.leiturasedevaneios.com.br

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. hahaha Concordo! A capa é bem blasé mesmo. Eu nunca fui muito de ler livros infantis, nem quando eu era criança, mas recentemente tenho gostado bastante. Tem um toque de magia, de cor nesse tipo de livro.
      Obrigada e beijos!

      Excluir

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