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Resenha | Precisamos falar sobre o Kevin - Lionel Shriver

Editora: Intrínseca
Páginas: 464
Estrelas: ✬✬✬✬✬
Skoob
Publicado originalmente em 2003 com o título de We Need to Talk About Kevin

Lionel Shriver realiza uma espécie de genealogia do assassínio ao criar na ficção uma chacina similar a tantas provocadas por jovens em escolas americanas. Aos 15 anos, o personagem Kevin mata 11 pessoas, entre colegas no colégio e familiares. Enquanto ele cumpre pena, a mãe Eva amarga a monstruosidade do filho. Entre culpa e solidão, ela apenas sobrevive. A vida normal se esvai no escândalo, no pagamento dos advogados, nos olhares sociais tortos.
Transposto o primeiro estágio da perplexidade, um ano e oito meses depois, ela dá início a uma correspondência com o marido, único interlocutor capaz de entender a tragédia, apesar de ausente. Cada carta é uma ode e uma desconstrução do amor. Não sobra uma só emoção inaudita no relato da mulher de ascendência armênia, até então uma bem-sucedida autora de guias de viagem.
Cada interstício do histórico familiar é flagrado: o casal se apaixona; ele quer filhos, ela não. Kevin é um menino entediado e cruel empenhado em aterrorizar babás e vizinhos. Eva tenta cumprir mecanicamente os ritos maternos, até que nasce uma filha realmente querida. A essa altura, as relações familiares já estão viciadas. Contudo, é à mãe que resta a tarefa de visitar o "sociopata inatingível" que ela gerou, numa casa de correção para menores. Orgulhoso da fama de bandido notório, ele não a recebe bem de início, mas ela insiste nos encontros quinzenais. Por meio de Eva, Lionel Shriver quebra o silêncio que costuma se impor após esse tipo de drama e expõe o indizível sobre as frágeis nuances das relações entre pais e filhos num romance irretocável.


Esse livro me trouxe sensações conflitantes. É um romance escrito em cartas, de Eva para Franklin, da mãe para o pai do Kevin. 

O livro começa com um prólogo que nos conta que o Kevin matou 11 pessoas no colégio, mas depois disso, ela volta sua história desde antes de o Kevin nascer. Desde a decisão de ter filhos até o assassinato em massa praticado pelo filho.

Não consigo apontar nenhum personagem desse livro como um que eu tenha gostado. São todos detestáveis, desde o Kevin (por motivos óbvios), até sua mãe, seu pai e sua irmãzinha. A mãe desde o início já rolou uma antipatia por que ela nunca quis ser mãe, sua descrição do parto é horrível e tem alguma coisa na maneira com que ela escreve que você até acha que é culpa dela o filho ser psicopata. É claro que depois ela cresceu em mim e pude entender melhor a personagem, como é previsível, mas de início, ela foi horrível.

O pai é um bundão - desculpa, mas não tem palavra que melhor o descreva. Absolutamente tapado das coisas que o cercam e um cretino com Eva, eu não sei como essa mulher se apaixonou por ele. Os dois são completamente diferentes. E a filha menor, Célia, teoricamente ela é a melhor de todos, mas ela é extremamente submissa e sem personalidade. Não é que a autora não tenha utilizado a personagem, é que ela foi construída para ser dessa maneira, sem sal, apática.

Claro que o grande triunfo do livro são seus personagens junto com a temática da sociopatia juvenil. Acredito que é quase impossível dar um spoiler desse livro. Nós já começamos sabendo que o Kevin matou 11 pessoas e que eles perderam tudo. Tirando as últimas páginas do livro, que confesso não estar esperando e que concluiram o livro de uma maneira perfeita, a história que é contada nos livros fica por conta do desenvolvimento dos personagens.

Ele me despertou sentimentos de nojo, asco, tristeza, medo, mas também entendimento e compaixão. O livro não é apelativo, ele não foi escrito naquela tentativa óbvia de te fazer sentir - como trilha sonora de programa de televisão domingueiro. A personagem narradora não sente pena de si mesma nem quer que nós sintamos. 

É um livro excelente. Já foi para a fila de releituras e de recomendações. Prepare-se para uma jornada emocional e inicie essa leitura. Recomendadíssimo!

E você? Já leu? Pretende ler? Deixe sua opinião nos comentários!

Comentários

  1. Estamos numa época de ler os mesmos livros na mesma época, Rafa!! Tô adorando isso, pois adoro suas resenhas e opiniões!!

    Comecei a ler esse livro no celular como ~ segunda leitura ~ quando não consigo ler o livro físico no metrô, mas minha amiga falou que ele é bem pesado e tals então parei, vou terminar o que estou lendo agora e vou pegar só ele para ler, até para me envolver mais! Estou bem no comecinho!

    bjokas!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Own, Dani, digo o mesmo pra vc. Estamos sintonizadas nas leituras mesmo! haha
      Espero que vc goste tanto qto eu! s2

      Beijos!

      Excluir

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